Sempre
que falamos em inclusão de pessoas com deficiência na escola regular, em
específico aqui as pessoas com TEA, nos deparamos com professores preocupados
com “o que fazer” com relação aos conteúdos, a metodologia e as estratégias que
são utilizadas em sala de aula. É muito comum ouvirmos “eles não acompanham a
turma” ou “eles não entendem o que é para fazer”.
De
acordo com a LDB 9394/96, a União deverá incumbir-se de
IV- estabelecer, em colaboração com os estados, o
Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a educação
infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos
e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;
E com relação à educação especial
mais especificamente,
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos
educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos
educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;
Além
do exposto acima, de acordo com a nota técnica n° 24/2013 – MEC/SECADI/DPEE,
que orienta os sistemas de ensino sobre a implementação da Lei n° 12.764/2012
que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista,
Para a realização do direito das pessoas com
deficiência à educação, o art. 24 da CDPD (ONU/2006) estabelece que estas não
devem ser excluídas do sistema regular de ensino sob alegação de deficiência,
mas terem acesso a uma educação inclusiva, em igualdade de condições com
as demais pessoas, na comunidade em que vivem e terem garantidas as
adaptações razoáveis de acordo com suas necessidades individuais, no
contexto do ensino regular, efetivando-se, assim, medidas de apoio em ambientes
que maximizem seu desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de
inclusão plena.
Assim sendo, é perceptível o direito
do estudante com TEA ou qualquer outra deficiência e o dever do sistema de ensino, a adaptação curricular que está longe de ser como muitos ainda insistem em
fazer: oferecer, por exemplo, um “desenho livre” ao aluno com TEA que se recusa
escrever enquanto os demais colegas fazem uma atividade escrita sobre qualquer
conteúdo do currículo. Adaptar, neste contexto, quer dizer tornar acessível. Ou
seja, se o assunto da aula é corpo humano, TODOS, sem exceção, farão atividades
sobre o corpo humano.
Pessoas com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) podem aprender por memorização e não por intuição e têm
dificuldade em transferir aptidões ou expectativas que aprenderam em
determinada situação. Além disso, com imaginação limitada é difícil solucionar
problemas, pensar com criatividade em certos aspectos, assim como entender
piadas, brincar ou entender regras sociais (Moore, 2002).
Somado
a estas características, a dificuldade de comunicação pode acarretar certos
comportamentos que para nós podem parecer rebeldia, como o uso de expressões
“não vou fazer”, “não sei” (mesmo que saiba), ou ainda fuga como outras
crianças fazem, com o uso de expressões como “estou com dor, liga para minha
mãe”, quando uma situação lhe causa desconforto num momento de possível
“desorganização interna”.
Sabe-se
também que a escrita manual é muitas vezes rejeitada, no entanto é preciso
enfatizar que esta é uma característica que muitas pessoas com TEA apresentam,
afinal, é muito mais cansativo e difícil para eles transformar algo “pensado”
ou “lido” em letras, palavras ou sentenças grafadas. É um
exercício muito complexo que leva muito tempo e demanda muita concentração,
atenção, organização e coordenação motora, dificuldades muito presentes em suas vidas.
Na escola, tais características e
dificuldades se tornam mais evidentes em função da visibilidade e da própria
dinâmica escolar e, a adaptação do ambiente bem como a curricular se faz
necessária para que a aprendizagem seja garantida a este estudante. E vocês
devem estar perguntando: como adaptar?
O
primeiro passo é conhecer as potencialidades do seu aluno com TEA, bem como
suas dificuldades. A partir disso, pense em sua sala de aula como um todo e
pergunte-se: o que posso fazer para atender a TODOS sem que as potencialidades
do meu aluno com TEA sejam desprezadas e suas dificuldades virem barreiras
durante a atividade? Ou ainda, elabore a atividade para a turma e pense numa
estratégia para que seu aluno com TEA possa realizá-la também, em dupla, oralmente
ou de qualquer outra maneira que o fizer mais confortável. O importante é que
ele participe da aula e tenha acesso ao mesmo currículo que os demais colegas
de sua turma!
Em
muitos casos, menos é mais! Diminuir a quantidade de questões, reduzir ou
resumir um texto são estratégias simples e que podem fazer uma enorme
diferença, a TODOS!
Ainda
podemos contar com outras estratégias, como: questões curtas e objetivas; nunca
ser subjetivo, usar pegadinhas ou charges; testes de múltipla escolha (sem
pegadinhas, com alternativas bem objetivas); interpretação de gráficos,
figuras, imagens e diagramas; reconhecimento de informações ausentes ou erradas;
identificação de semelhanças e diferenças; cruzadinhas e caça palavras; reconhecimento
de informações em um texto com a possibilidade de grifar ou circular a resposta
correta; utilização de filmes em detrimento a leitura de livros, e tudo mais
que sua imaginação e criatividade permitirem!
Enfim,
penso que muito acima de leis, decretos, notas técnicas e afins, está o aluno
com suas características específicas, dentro ou não do Espectro Autista, nos
aguardando ansiosos para a próxima aula! Até mais...