terça-feira, 26 de maio de 2015

DE PROFESSOR PARA PROFESSOR

Bem sabemos o quanto está difícil a sala de aula hoje em dia, não é mesmo? Salas superlotadas, alunos indisciplinados, falta de recursos, sem falar na falta de incentivo moral, psíquico e econômico. 

Para “ajudar” há esta tal de escola inclusiva, a qual se trabalha com uma diversidade que não conhecemos e que não fomos formados para formar. São pessoas com diversos tipos de deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação e altas habilidades que se misturam àqueles que não se encaixam em nenhum destes quadros, nem mesmo à normalidade, mas que apresentam dificuldades de aprendizagem, déficit de atenção, transtornos de humor, etc, etc, etc.

O professor no mínimo deve ser um super-herói não é mesmo? Não. Não há necessidade para tanto.
Vamos pensar em especial no árduo trabalho com os alunos com transtornos globais do desenvolvimento (TGD), ou como queiram transtornos do espectro autista (TEA), ou ainda, simplificando, os autistas. Este público, em especial, é especial, não? Cada um é um. Cada um com um conjunto distinto de características, introspectivos ou hiperativos, não verbais ou falantes demais, agressivos ou passivos, ótimos em matemática ou em música, enfim, uma infinidade de características que percebemos com o convívio e que nem sempre sabemos lidar.

Imaginem um estudante que apresente grau leve de TEA, síndrome de asperger, inteligente, falante, hiperativo, rigidez de pensamento, dificuldade em lidar com frustrações e muita dificuldade em sociabilização. Chega à escola, como de costume, dirige-se à sala de aula com uma rotina organizada em sua mente (sim eles se prendem muito a rotinas!), e de repente é surpreendido com a notícia de que naquele dia o professor de matemática faltará.

É a disciplina que ele mais gosta, está mais adiantado que toda a turma e estava ansioso pela aula (sim eles podem sofrer de transtorno de ansiedade!) porque tinha feito um exercício extra e queria muito saber a resposta. Pronto, a rotina que antes estava organizada se desorganiza e causa um enorme desconforto. Este aluno levará um tempo até que tudo volte ao seu lugar internamente. Até aí tudo bem, não fosse a professora da aula seguinte entrar e dar o seguinte comando: façam um texto de 20 linhas sobre suas férias. O aluno questiona a professora, usando seus argumentos: não vou fazer porque agora era aula de matemática e não sou obrigado a contar sobre as minhas férias para ninguém. A professora responde usando os seus argumentos: problema seu, vai ficar sem nota. Pronto, o que estava desorganizado contribui para que este estudante não consiga pensar que aquela professora estaria cumprindo o que fora lhe ordenado, no caso, cobrir o horário e cumprir com o conteúdo, e que se conversasse adequadamente talvez pudesse chegar a um acordo com a mesma, como qualquer outro aluno pudesse fazer. Booom! A aula acaba ali, professora destroçada, aluno extremamente agressivo e desconsertado, vamos chamar a família (este é um assunto para um próximo post).

A prática pedagógica nos permite manobras, até em momentos como este, e se pararmos para refletir sobre nossa ação docente perceberemos que fazemos muito, mas é a busca por conhecimento, a atualização de saberes e a leitura constante que nos faz cada vez melhor e mais próximo da realidade que temos.

Tenho certeza de que devem estar pensando: na teoria é uma coisa, na prática é outra... Concordo, mas em partes. Pode ser que com a prática aprendemos a lidar com o problema ali, naquele momento, mas o que estaria por trás daquilo tudo? Como evitar para que não aconteça novamente? O que precisaria ter feito para evitar que acontecesse?

O mundo mudou. Nós mudamos. Nossos alunos mudaram. E nossa prática docente, é a mesma de quando nos formamos? Mario Sérgio Cortella, em palestra sobre os paradigmas da tecnologia na educação, nos chama de “professores mornos” se assim pensamos (clique aqui para saber mais), diz que se “Eu nasci a 10000 anos atrás” como dizia Raul Seixas, e continuo pensando como tal, não cresci, não aprendi. Logo, se não sou bom “aprendente”, não sou bom “ensinante”.

Sendo assim, para saber mais sobre TEA, sugiro algumas andanças pelas quais iniciei minha jornada como professora de adolescentes com autismo e mãe de Aspie... Divirtam-se: