sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ATÉ QUANDO?

É um misto de sensações que me invade a cada toque do telefone. Sinto uma euforia enorme, uma ansiedade para que não seja quem eu estou pensando que é.
E quando me certifico da identidade de quem me chama ao telefone, uma angústia, uma vontade de sair correndo, um sei lá o quê.
Desligo e tento me acalmar, e quase sempre em vão... Os minutos passam e eu preciso sair, resolver aquilo que no meu entender de professora, faz parte do papel da escola, resolver aquilo que deveria ser resolvido pelos envolvidos, resolver aquilo que não se consegue resolver por falta de conhecimento e habilidades.
Até quando? – pergunto. Até quando o meu papel de mãe vai se misturar com o de educadora? Até quando serei o porto seguro da escola? Até quando não terei meu próprio porto seguro, a escola como parceira?
Falamos 10, 20 vezes as mesmas coisas e, no entanto, tudo se repete. Por quê? Por que os profissionais da educação são tão resistentes, tão cheios de si e ao mesmo tempo vazios de conhecimento que insistem em não buscar? Tudo bem, é um conjunto de fatores que beneficiam situações tão “desastrosas”, mas não podemos continuar assim.
Uma educação de qualidade é aquela que alcança a diversidade, que ensina e também aprende, é uma incansável e inesgotável fonte de possibilidades que nos remete a um final que quem escolhe é o educador.
Me pergunto, até quando? Até quando vou sentir este misto de emoções que nem sei explicar? Até quando vou ter de esperar para sentir a certeza de que tudo está no caminho certo?
Até quando teremos que esperar por professores formados para a diversidade, por uma sociedade livre de preconceitos, por uma escola que acolhe? Até quando?
O autismo não tem cura, não há medicamento ou terapia que faça com que a criança com autismo se comporte e tenha opiniões iguais ao restante da sociedade que se considera “normal”.

Definitivamente acredito que teremos que aguardar até que a escola entenda seu papel e os professores entendam que as habilidades sociais podem ser treinadas, que a escola tem um papel decisivo neste treinamento e que sim, a criança com autismo pode estar na sala de aula regular se for compreendida, auxiliada e, principalmente, aceita como é. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

CORE: 20 anos da Declaração de Salamanca e as necessidades da escola

Há 20 anos, representantes das Nações Unidas reafirmaram o compromisso pela Educação para Todos com a elaboração da Declaração de Salamanca: sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais (1994).
          Desde então, é possível perceber que houve muitos avanços no que se refere a leis, decretos e resoluções, tanto em âmbito nacional como estadual, porém, muito pouco com relação à políticas públicas e ações formativas para que a aprendizagem dos estudantes com deficiências seja de fato garantida.
          Algumas ações têm sido propostas com relação à educação no Estado de São Paulo, mas, dentre tantos desafios, ainda é preciso acabar com o preconceito, sensibilizando e oferecendo mais conhecimento à sociedade como um todo a fim de que as habilidades de cada um sejam valorizadas e evidenciadas, e não somente as suas deficiências e necessidades. É sabido que talvez o maior desafio seja a quebra de paradigmas e a ressignificação de conceitos, que, por meio de ações concretas que incluem discussões e reflexão em todos os níveis educacionais é possível de ser vencido, porém, sabe-se que não é fácil, afinal, a cultura e os valores diferem de pessoa para pessoa. É um trabalho de “formiguinha” mesmo.
          Pensando neste contexto, talvez seja preciso partir da sensibilização e formação dos gestores, que, com o conhecimento adequado, uma forma de ver o aluno com deficiência de maneira mais sensível e, portanto, mais humanizada e a determinação de fazer sua gestão mais democrática e participativa, terá muito mais competência em motivar toda comunidade escolar a participar mais de ações diretivas ao processo de inclusão, a começar pela elaboração colaborativa e cooperativa do PPP.
          Os professores, por outro lado, precisam de segurança para atender seus estudantes. Esta segurança estaria em buscar conhecimento adequado e disponibilidade para discutir e trocar experiências com seus pares. A formação em serviço e a partir de sua própria realidade poderia contribuir com a mudança de prática pedagógica a fim de oferecer a seus alunos uma aprendizagem significativa e adequada.
          Neste sentido, a CORE Assessoria Pedagógica, contempla o que na Declaração de Salamanca (1994) chama de recrutamento e treinamento de educadores, mas que categoriza de “menor desafio”, o treinamento em serviço.
          Não sei se é o menor ou maior desafio diante das condições que temos hoje nas escolas, porém, a CORE acredita ser possível, transformando os horários de trabalho pedagógico coletivos em momentos de reflexão, troca de experiências e estudos de caso. Para tanto, a escola como um todo, demandaria somente da mudança de prática e claro, da quebra de paradigmas quanto a este horário de atividades pedagógicas coletivas.
        Afinal,
é no enfrentamento dos novos desafios colocados pela Educação Especial e Inclusiva que o professor [e gestores], buscando cursos de formação e aprimoramento, compartilhando suas dúvidas e inseguranças com os colegas e profissionais da área, solicitando os recursos dos quais necessita e fazendo o melhor que seus conhecimentos lhe vão permitindo, vai adquirir novas habilidades e competências para responder de forma satisfatória a estas novas demandas. (SANTOS; NEME, 2014, p.8)

            Além do desafio de sensibilizar gestores e permitir a reflexão e mudança da prática dos professores a fim de garantir a aprendizagem de todos, especificamente para o aluno com Transtornos do Espectro Autista, é imprescindível que toda comunidade escolar esteja apta a receber este estudante adequadamente a fim de que suas habilidades sociais possam ser desenvolvidas. Esta “aceitação” da comunidade estaria diretamente vinculada aos dois desafios citados anteriormente, pois, gestores e professores sensibilizados e bem formados teriam a função de acolher, sensibilizar e oferecer o conhecimento necessário a toda esta comunidade escolar.

Referências
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS [ONU]. Declaração de Salamanca: Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca, 1994. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
Acesso em 21 set. 2014.

SANTOS, M.A.P.; NEME, C.M.B. A profissão docente e o cotidiano escolar: questões reflexivas e dilemas éticos da Educação Especial e Inclusiva. 2014. E-book Redefor Educação Especial: TGD. Disponível em: www.acervodigital.unesp.br/bitstream/unesp/155317/1/unesp-nead_reei1_ee_d05_texto2.pdf

Acesso em: 21 set. 2014.