É um misto de sensações que me invade a cada toque do
telefone. Sinto uma euforia enorme, uma ansiedade para que não seja quem eu
estou pensando que é.
E quando me certifico da identidade de quem me chama ao
telefone, uma angústia, uma vontade de sair correndo, um sei lá o quê.
Desligo e tento me acalmar, e quase sempre em vão... Os
minutos passam e eu preciso sair, resolver aquilo que no meu entender de
professora, faz parte do papel da escola, resolver aquilo que deveria ser
resolvido pelos envolvidos, resolver aquilo que não se consegue resolver por
falta de conhecimento e habilidades.
Até quando? – pergunto. Até quando o meu papel de mãe vai se
misturar com o de educadora? Até quando serei o porto seguro da escola? Até
quando não terei meu próprio porto seguro, a escola como parceira?
Falamos 10, 20 vezes as mesmas coisas e, no entanto, tudo se
repete. Por quê? Por que os profissionais da educação são tão resistentes, tão
cheios de si e ao mesmo tempo vazios de conhecimento que insistem em não buscar?
Tudo bem, é um conjunto de fatores que beneficiam situações tão “desastrosas”,
mas não podemos continuar assim.
Uma educação de qualidade é aquela que alcança a
diversidade, que ensina e também aprende, é uma incansável e inesgotável fonte
de possibilidades que nos remete a um final que quem escolhe é o educador.
Me pergunto, até quando? Até quando vou sentir este misto de
emoções que nem sei explicar? Até quando vou ter de esperar para sentir a
certeza de que tudo está no caminho certo?
Até quando teremos que esperar por professores formados para
a diversidade, por uma sociedade livre de preconceitos, por uma escola que
acolhe? Até quando?
O autismo não tem cura, não há medicamento ou terapia que
faça com que a criança com autismo se comporte e tenha opiniões iguais ao restante
da sociedade que se considera “normal”.
Definitivamente acredito que teremos que aguardar até que a
escola entenda seu papel e os professores entendam que as habilidades sociais
podem ser treinadas, que a escola tem um papel decisivo neste treinamento e que
sim, a criança com autismo pode estar na sala de aula regular se for
compreendida, auxiliada e, principalmente, aceita como é.