Sabe aquela cena do filme “Procurando
Nemo” (Disney/Pixar) em que o próprio acorda o pai todo exaltante gritando “Primeiro dia de
aula, primeiro dia de aula!”? Pois, é, não me saiu da cabeça desde a
terça-feira que meu filho chegou em casa dizendo que o dia seguinte seria o seu
último.
Num ímpeto de repetir a cena, só que
dizendo “Último dia de aula, último dia de aula”, o acordei naquela quarta com
uma sensação de dever cumprido, de estar encerrando um ano fatídico, um ano
difícil em relação à inclusão escolar, mas devo admitir, muito melhor que os
dois últimos.
Jamais pensei que como professora eu
pudesse desejar que as férias chegassem logo, que meu filho pudesse deixar de
ir à escola, mesmo que fosse para deixar de desenvolver suas funções
psicológicas superiores[i], cujo papel mediador é
preponderante e insubstituível da ESCOLA.
Nesta relação mãe e filho, já não sei
se sou mãe ou professora...
É uma angústia que se acaba com a
chegada das férias, uma ansiedade que se aquieta e uma sensação de liberdade
que vai tomando conta do dia-a-dia até que as aulas se iniciem novamente.
Ao mesmo tempo, uma dúvida vai
incomodando cada vez mais, fazendo com que eu não relaxe totalmente, com que eu
não pare. A incerteza do futuro acaba com a gente, não? E não estou falando de
um futuro muito distante, estou falando do próximo ano escolar... Será que os
professores estarão melhor preparados? Será que a escola estará mais acessível?
Será que as estratégias de ensino estarão mais adequadas ao meu Nemo e a tantos
outros? Será, será, será...
Acredito que muita coisa andou, meio
que cambaleando, mas andou. Tivemos muitos progressos, é fato, mas é preciso um
trabalho árduo, num caminho de muita dedicação, amor, e busca por conhecimento
que a escola no Brasil vai precisar percorrer, que a sociedade vai precisar
trilhar. Estamos muito atrasados com relação à inclusão, mas já podemos notar o
esforço de alguns.
Carecemos de atendimento multidisciplinar na
saúde, mas acima de tudo, que este atendimento esteja articulado com a escola e
a família. É este movimento que permite que todos conheçam as necessidades e as
habilidades de nossos filhos, de nossos estudantes. Outro dia, ouvi da diretora
da escola do meu filho um pedido de paciência, pois sempre buscaram a parceria
com a família e os profissionais da saúde que atendiam seus alunos, mas que era
novidade aquilo tudo acontecer, que não estavam acostumados com toda
assistência que estava sendo oferecida por mim até então.
Além desta dificuldade, o que vejo de mais
“dificultoso” neste tentar inclusivo é o fato de sempre estar comparando esta
com aquela criança. Cada caso é um caso, não somos iguais e, neste, temos a
denominação de Transtorno do Espectro Autista justamente pelo ESPECTRO que
abarca.
Escolas, vamos nos atentar à pessoa como
única, desenvolver suas habilidades e não nos deter somente às suas dificuldades.
À sua
nadadeira que não se desenvolveu tão bem quanto a outra, vamos dar apoio. Vamos
nos unir à família, ouvir o que eles nos trazem, seguir suas orientações e
dos profissionais que acompanham a criança, afinal, eles convivem com ela desde sempre. Vamos buscar conhecimento, pedir ajuda antes que o Nemo se perca.
[i]
Funções psicológicas superiores: processos mentais e simbólicos na relação do
homem com o mundo, as ciências, a arte, a linguagem, o cálculo, a memória cultural,
a tecnologia (...), segundo Oliveira (2014).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário